sábado, 28 de novembro de 2009

nunca é demais

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Já defendi aqui a idéia de que clichês existem pois são reconfortantes. É sempre bom saber que certas coisas nunca vão mudar. Feriados e datas comemorativas, para mim, são clichês. E como todo clichê, em parte me irritam, em parte me deixam muito emocionada.


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De todos os feriados, tenho um carinho especial peloi Thanksiving, que nem é comemorado por aqui, a não ser em um sentido estritamente religioso, e, se não me engano, basicamente católico. Nada a ver comigo, portanto.
O carinho que eu tenho se origina na minha primeira estada longa em terras americanas (estadunidenses, se preferirem). Sim, os comunistas, socialistas e demais idealistas que eventualmente estiverem lendo devem estar torcendo o nariz. Fato é que lá estive, e lá vivi momentos bons, especialmente no referido final de semana de ação de graças.

Além dos momentos super propaganda de margarina, família toda reunida, muita comida na mesa, a lareira acesa, todo mundo jogando football, as tias cacarejando, os primos olhando TV, a viagem de carro, dormir todo mundo em colchonete, jogado pela casa, comer torta de maça, de chocolate, de abóbora e um peru gigante, o que mais me lembro é de um momento específico. Minutos antes do almoço, todos sentados a mesa, lindamente reunidos, cada um teve que se pronunciar e declarar por quais coisas estava agradecido.
Eu sei, não há nada mais cafona do que sair propagando por aí que somos felizes e que temos uma vida maravilhosa. Mas, naquele momento, tudo me pareceu de uma beleza e de uma sinceridade assustadora.


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E desde então, toda quarta quinta-feira de novembro, eu paro e penso nas coisas pelas quais estou grata:


Família, por mais que ela incomode, por mais que haja pressão, por mais que existam mentiras. Ainda é a base, ainda é com quem eu mais posso contar. Ainda são quem eu vejo todo dia. Com quem eu brigo, a quem eu mais tento agradar.

Quilos perdidos. Sim, agradeço pelo que deixei para trás. Por uma nova realidade, por tudo que isso me trouxe. Por (um pouco) mais de confiança. Por elogios recebidos. Pelas mudanças que ainda acontecerão.

Flores frescas no vaso. Flores que caem das árvores e colorem a calçada. Flores no pé. E pelas borboletas que voam ao redor.

Meu cachorros, que, por mais absurdo que isso possa parecer, me olham cheios de amor. Me fazem companhia quando me sinto só. Me recepcionam não importa a hora que eu esteja chegando. Minha gata, que me acorda de manhã, me garantindo mais uns minutos de sono, já que não gosto de perturbá-la. A harmonia entre os cachorros e a gata, aqui em casa.

Livros. Os que li, e os que não li. Os que comprei, os que ainda estão na lista. Os que foram emprestados e retornaram. A pilha que eu vejo todo dia, e que sei que nunca vai parar de crescer.

Torta de maçã. Marzipan. Chocolate 70% cacau. Cappuccino. Filé. Risoto de cenoura. Salmão grelhado. Pipoca na Redenção. Bala de minhoca azeda. Uva, pêssego, morango. Rosca saindo do forno. Pizza da Buca. Sushi de salmão com cream cheese. Rolinho primavera. Batata frita do Shamrock. Torta de bolacha. Strogonoff de atum. Batata palha. Saladas bem feitas. Azeitonas. Sorvete Haagen-Dazs. Spatzle de espinafre. Chuchu cozido.

O Francisco, o Arthur e o João. As únicas crianças que alegram os meus dias e que habitam os meus pensamentos.

Alunos, alguns. Nem todos, infelizmente.

Risadas e gargalhadas. Sorrisos furtivos. Sorissos espontâneos. Sorrisos sinceros. Abraços apertados. Beijos. Mordidas.

Cabelos compridos.

Espumante gelada na beira da praia. Caipirinha na beira da piscina. Cerveja no Campus 3. Taças de vinho no inverno. Litros de água mineral. Suco de uva. Limonada.

Música. Little Joy, Norah Jones, Marcelo Camelo, Fito, Beatles, Amy, Bob Dylan, cat Power, Bright Eyes, Jimi Hendrix, Velvet Undergound.

Garopaba. Gramado. Porto Alegre.

Once, que foi o filme mais lindo do ano.

Amigos, outro clichê. Os que chegaram há pouco, os que estão aqui há tempo. Os que passaram rápido, os que nunca vão embora. Os que fazem rir, os que seguram minha mão quando eu quero chorar. Os que fazem arte, os que fazem filosofia, os que fazem a vida mais feliz. Os que eu vejo quase nunca, os que eu falo todo dia.


Acima de tudo, estou grata pelas lágrimas que chorei. Pelas que ainda vou chorar. Pelas que não querem sair de dentro de mim. Pois, para mim, elas são sinal de que ainda sinto. Se sinto, ainda vivo. Se vivo, compartilho. Se compartilho, é porque vale a pena.





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(saiu com dois dias de atraso, mas saiu)




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