segunda-feira, 28 de setembro de 2009

lembranças de outra vida

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esse final de semana, lembrei. de amigos distantes, de amigos não tão distantes, de ex-amigos.
lembrei de disney moments, da magia que era tudo aquilo, do sorriso fácil no rosto quando se trabalha em uma terra realmente encantada.
lembrei de como eu gosto da chuva, de como é bom ficar vendo a água cair do céu, de como isso me deixa em paz. lembrei do bob dylan, e lembrei que eu sempre prometo que eu vou ouvi-lo mais e tratá-lo com o devido respeito.
lembrei de como eu gosto de ir ao abbey, mesmo que esteja lotado e que não seja com a melhor companhia. de como festas anos 80 podem ser extremamente divertidas. de como eu gostaria de ter mais tempo e mais companhia para ir lá e em outros lugares. de sair mais a noite. de dançar como se o pé não doesse, como se ninguém estivesse olhando.
lembrei de como é bom ter gente ao meu redor. amigos queridos, pessoas novas. lembrei que uma das coisas que eu mais sinto falta nesse mundo é de ter contato físico com meus amigos. abraçar, dar beijo, fazer carinho. lembrei que não sei porque não tenho esse hábito mais.
lembrei de paris, das luzes a noite, dos edifícios antigos, do rio sena correndo como se não houvesse uma metrópole ao redor, da primeira vez que eu vi notre-dame.
não lembrei de trabalho, a não ser ontem a noite, e decidi ignorá-lo. e lembrei que o momento no trabalho é ruim, e que foi bom ficar sem lembrar por um tempo.
lembrei da vista que se tem da casa de uma amiga em gramado, para o vale do quilombo, e do lago que tem no condomínio dela, e de como eu gostaria de sentar ali e ficar horas lendo um livro, calmamente, como se não houvesse mundo ao redor. lembrei de livros que li. lembrei que é bom ter pessoas com quem conversar sobre livros. lembrei que faz um mês para a feira do livro e que isso me deixa muito feliz. lembrei que na feira do livro eu sou pior que criança em parque de diversão.
lembrei da pessoa de cabelo comprido. lembrei como era bonito aquele cabelo, como eu gostava de mexer nele. lembrei de um beijo muito bom, em uma das noites em que mais me diverti nesse ano. lembrei do que poderia ter sido e não foi. e lembrei que lembrar pode doer, às vezes. e lembrei também que esquecer poder ser muito mais difícil que se imagina. e muito mais longo. mas lembrei que o passado ao passado pertence, e que preciso providenciar um futuro.
lembrei de tirar a torta e os brownies do forno antes de queimarem. lembrei de ser paciente na cozinha. lembrei como é bom ter uma amiga que se sente confortável o suficiente para se refugiar na minha casa por horas a fio.
lembrei que eu gosto muito de beber caipirinha com cachaça. muito melhor do que a de vodka, e muito mais forte. e lembrei que esse é um dos únicos ufanismos patrióticos que eu gosto de manter.
lembrei como eu gosto de ficar quieta observando ao invés de ficar falando sem parar. lembrei a sensação que é ficar envergonhada e não saber o que dizer. lembrei como é bom sentir que você é querida, apesar de ser uma chata. lembrei como é bom dar risada até a barriga doer.

lembrei que gostaria de lembrar mais. e de viver mais, para ter mais o que lembrar.



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segunda-feira, 21 de setembro de 2009

das decisões

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"Foi assim que raciocinei então, fazendo da minha cobiça a sentinela de um estranho cálculo moral, silenciando minha má consciência. Mas isso não me deu a coragem para ir visitar a Sra. Schmitz. Um motivo era explicar a mim mesmo por que minha mãe, o honrado pastor e minha irmã mais velha, se tdos eles refletissem profundamente, não me poderiam impedir, mas teriam de me aconselhar a ir. O fato de ir visitá-la era algo completamente diferente. Não sei por que o fiz. Mar reconheço hoje nos acontecimentos daquela época o modelo segundo o qual, ao longo da minha vida, ações e comportamentos concordaram ou não concordaram entre si. Penso, chego a um resultado, mantenho o resultado preso a uma decisão e faço a experiência de que a ação é uma coisa por si mesma, que pode mas não tem que seguir a decisão. Com bastante frequência no decorrer da minha vida fiz o que não tinha decidido e deixei de fazer o que tinha decidido. Algo, que nunca saberei, age; "algo" dirige-se à mulher que não quero mais ver, "algo" faz diante dos superiores a observação que me desgraça, "algo" volta a fumar depois que percebo que sou e permanecerei sendo um fumante. Não quero dizer que pensar e decidir não tenham nenhuma influência sobre a ação. Mas a ação não perfaz simplesmente o que foi pensado e decidido de antemão. Ela tem sua própria fonte e e da mesma maneira independente, como meu pensamento é meu pensamento, como minha decisão é minha decisão."



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de uma das leituras atuais: O leitor, Bernard Schlink
fazia tempo que estava querendo ler, e não estou me arrependendo
porque o negócio é bem profundo e bem instigante, sabe?


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quinta-feira, 17 de setembro de 2009

existe um sentido?




"Eu tenho medo que se você olhar para algo por tempo suficiente, ele perde todo o seu sentido"
Andy Warhol





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tudo anda meio sem sentido para mim. acho que já olhei para as coisas por muito tempo, mesmo.
mas, se não tem sentido, o que é que tem?




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terça-feira, 8 de setembro de 2009

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"Movendo-me no meio de meu povo, nunca fiquei impressionado com quaisquer de suas realizações, jamais senti a presença de qualquer profundo impulso religioso, nem de um grande impulso estético: não existia nenhuma arquitetura sublime, danças sagradas, rituais de qualquer espécie. Movemo-nos num enxame, pretendemos realizar uma coisa: deixar nossa vida mais fácil. As grandes pontes, as gigantescas represas, os grandes arranha-céus deixavam-me frio. Só a natureza podia intilar uma sensação de medo. E nós desfigurávamos a natureza a cada passo. Sempre que saía a percorrer o país, voltava de mãos vazias. Nada de novo, nada de bizarro, nada de exótico. Pior, nada de que a gente se inclinar, reverenciar. Apenas uma terra em que todos se agitavam feito doidos. Eu palpitava do desejo de venerar e adorar. Necessitava de companheiros que se sentissem da mesma forma. Mas não havia nada que reverenciar e adorar, não havia companheiros de espírito idêntico. Havia apenas uma solidão de aço e ferro, de estoques e fianças, de colheitas e produção, de fábricas, moinhos, serrarias, uma solidão de enfado, de utilidades inúteis, de amor sem amor..."



Henry Miller
do livro Nexus



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recebi da ana cris e achei tão bonito



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segunda-feira, 7 de setembro de 2009

falando no tempo...

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"Times will be tough like old leather and gravel roads occasionally. Times will be easy, like Sunday morning, every now and then. What you do during these times will define you as a person and a human being. Your humanity towards others, your will to make the world a better place for you and those around you and your identity as a citizen of the world. All these things count."



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"os tempos serão difíceis como couro velho e ruas de cascalho. os tempos serão fáceis, como manhã de domingos, de vez em quando. o que você faz durante esses tempos definirá você como uma pessoa e como ser humano. sua humanidade em relação aos outros, sua vontade de fazer do mundo um lugar melhor para você e aqueles ao seu redor e sua identidade como cidadão do mundo. todas essas coisas contam."



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como muitas vezes, daqui

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

ah, se pudesse voltar no tempo...

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hoje fiquei pensando. nunca sai muita coisa boa quando eu começo assim. mas pensei.
pensei no meu maior medo. não, medo não é a palavra. é pavor mesmo. porque toda vez que eu cogito encontrá-lo, tenho um príncipio de crise de pânico. taquicardia, suor, tremedeira, e uma total sensação de não saber o que fazer. o pacote completo.
pensei em como eu gostaria de apagar isso da minha vida. dizem que não devemos nos arrepender daquilo que fizemos, somente do que não fizemos. acho besteira. me arrependo muito mais do que eu fiz. e, se pudesse voltar no tempo, apagaria o ano passado todo. porque foi o ano em que eu conheci o pavor.
para muitos, é um exagero. concordo, eu também acharia que é caso ouvisse a história. podem dizer que é bobagem, que é coisa de quem não tem o que pensar. mas eu sei o que é sentir medo. eu já tive uma arma apontada pra minha cabeça. eu já achei que ia morrer. eu já desmaiei de tanto sentir dor.
mas nada disso se compara com esse pavor, esse que vem desse arrependimento. não é a mesma coisa. pois todas as experiências anteriores afetaram a minha vida, sim, de diversas maneiras. mas o alexandre deixou as marcas mais profundas, no fim das contas. e as marcas de que eu mais gostaria de me livrar. e um dos únicos de que eu não consigo.

essa semana eu dei a última 'lembrança' que restava. e eu gostava daquele colar. achava bem bonito. mas não consigo suportar o peso de usa-lo. ainda tenho as coisas que a mãe dele me deu, mas elas inevitavelmente também me lembram. estou decidindo se minha amiga vai ficar muito triste caso eu decida cortá-lo da foto de casamento dela, e acabar estragando a mensagem que ela me escreveu.

faço tudo isso na tentativa de esquecer. esquecer que um dia fui assim ingênua. que acreditei que eu poderia mudar, poderia aceitar, poderia me conformar. esquecer da tentativa de ser 'normal', de experimentar aquilo que a maioria das pessoas ou já tem, ou está buscando. e, principalmente, na tentativa de esquecer que eu não consegui fazer funcionar um relacionamento.

okay, tem todos os motivos que levaram a isso. a paranóia, a enrolação, as bebedeiras, a indecisão, a dependência, a preguiça, a total falta de interesses comuns. consigo analisar isso racionalmente, consigo entender que não foi culpa minha (nem de ninguém) não ter dado certo.
mas dai vem os questionamentos: e por que escolhi essa pessoa, entre todas? por que não escolhi outro? será auto-sabotagem? será carência? será descrença?

e depois dos questionamentos, a única pergunta que me ocorre é: será que um dia tem fim? será que posso ter esperança?



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tô sempre achando que não
e tô sempre quase desistindo



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terça-feira, 1 de setembro de 2009

sobrevivendo a agosto

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Sugestões para Atravessar Agosto
Caio Fernando Abreu


Para atravessar agosto é preciso antes de mais nada paciência e fé. Paciência para cruzar os dias sem se deixar esmagar por eles, mesmo que nada aconteça de mau; fé para estar seguro, o tempo todo, que chegará setembro - e também certa não-fé, para não ligar a mínima às negras lendas deste mês de cachorro louco. É preciso quem sabe ficar-se distraído, inconsciente de que é agosto, e só lembrar disso no momento de, por exemplo, assinar um cheque e precisar da data. Então dizer mentalmente ah!, escrever tanto de tanto de mil novecentos e tanto e ir em frente. Este é um ponto importante: ir, sobretudo, em frente.

Para atravessar agosto também é necessário reaprender a dormir. Dormir muito, com gosto, sem comprimidos, de preferência também sem sonhos. São incontroláveis os sonhos de agosto: se bons deixam a vontade impossível de morar neles; se maus, fica a suspeita de sinistros augúrios, premonições. Armazenar víveres, como às vésperas de um furacão anunciado, mas víveres espirituais, intelectuais, e sem muito critério de qualidade. Muitos vídeos, de chanchadas da Atlântida a Bergman; muitos CDs, de Mozart a Sula Miranda; muitos livros, de Nietzsche a Sidney Sheldon. Controle remoto na mão e dezenas de canais a cabo ajudam bem: qualquer problema, real ou não, dê um zap na telinha e filosoficamente considere, vagamente onipotente, que isso também passará. Zaps mentais, emocionais, psicológicos, não só eletrônicos, são fundamentais para atravessar agostos.

Claro que falo em agostos burgueses, de médio ou alto poder aquisitivo. Não me critiquem por isso, angústias agostianas são mesmo coisa de gente assim, meio fresca que nem nós. Para quem toma trem de subúrbio às cinco da manhã todo dia, pouca diferença faz abril, dezembro ou, justamente agosto. Angústia agostiana é coisa cultural, sim. E econômica. Mas pobres ou ricos, há conselhos - ou precauções - úteis a todos. O mais difícil: evitar a cara de Fernando Henrique Cardoso em foto ou vídeo, sobretudo se estiver se pavoneando com um daqueles chapéus de desfile a fantasia, categoria originalidade... Esquecê-lo tão completamente quanto possível (santo zap!): FHC agrava agosto, e isso é tão grave que vou mudar de assunto já.

Para atravessar agosto ter um amor seria importante, mas se você não conseguiu, se a vida não deu, ou ele partiu - sem o menor pudor, invente um.Pode ser Natália Lage, Antônio Banderas, Sharon Stone, Robocop, o carteiro, a caixa do banco, o seu dentista. Remoto ou acessível, que você possa pensar nesse amor nas noites de agosto, viajar por ilhas do Pacífico Sul, Grécia, Cancún, ou Miami, ao gosto do freguês. Que se possa sonhar, isso é que conta, com mãos dadas, suspiros, juras, projetos, abraços no convés à luz da lua cheia, brilhos na costa ao longe. E beijos, muitos. Bem molhados.

Não lembrar dos que se foram, não desejar o que não se tem e talvez nem se terá, não discutir, nem vingar-se ou lamuriar-se, e temperar tudo isso com chás, de preferência ingleses, cristais de gengibre, gotas de codeína, se a barra pesar, vinhos, conhaques - tudo isso ajuda a atravessar agosto. Controlar o excesso de informação para que as desgraças sociais ou pessoais não dêem a impressão de serem maiores do que são. Esquecer o Zaire, a ex-Iugoslávia, passar por cima das páginas policiais. Aprender decoração, jardinagem, ikebana, a arte das bandejas de asas de borboletas - coisas assim são eficientíssimas, pouco me importa ser acusado de alienação. É isso mesmo; evasão, escapismos. Assumidos, explícitos.

Mas para atravessar agosto, pensei agora, é preciso principalmente não se deter demais no tema. Mudar de assunto, digitar rápido o ponto final, sinto muito perdoe o mau jeito, assim, veja, bruto e seco:.

(O Estado de São Paulo, 06/08/95)



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depois de muita, muita, muita paciência, um pouco de fé e muita força de vontade para ir em frente, chegamos a setembro. ufa!
teve livro, teve CD, teve muitas horas de sono nesse agosto. dessa vez, não foi o FHC que agravou agosto, foi o Lula e o Sarney. Mudam os personagens. a história continua sempre a mesma.
A parte do amor, prefiro pular. O saldo de agosto é negativo nessa área, como tem sido há alguns meses. Oh, well...
Meu agosto foi cheio de desorganização. De alguns trabalhos extras. De uns poucos momentos felizes com amigos. De momentos tristes. De horas e horas navegando na web, em busca de sabe-se o que. De limpeza no computador, no MSN, na vida. Teve um ótimo retorno. Música boa. Comida. Exercício. Poucos resultados. Mais pro fim, quem sabe, pequenas perspectivas. Não as esperadas, mas perspectivas.




"Não lembrar dos que se foram, não desejar o que não se tem e talvez nem se terá, não discutir, nem vingar-se ou lamuriar-se, e temperar tudo isso com chás, de preferência ingleses, cristais de gengibre, gotas de codeína, se a barra pesar, vinhos, conhaques - tudo isso ajuda a atravessar agosto."


com tudo isso (menos a codeína):
sobrevivi.



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