quarta-feira, 28 de outubro de 2009

o instinto

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às vezes, do nada, percebo que estou como que procurando alguém. olho para os lados e penso no que faria se visse determinada pessoa. é um pensamento de um segundo, dois no máximo.
quando penso em um, é por medo. em outro, é por surpresa. em outro, é por hábito. ou por saudade. com esse, acontece cada vez menos.

e quando penso em outro, é por vontade.


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e essa vontade dá medo, de vez em quando.




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sexta-feira, 23 de outubro de 2009

o querer

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Fato 1: seres humanos são guiados pelo desejo. Fato 2: vivemos na chamada sociedade de consumo.
Já diziam os Titãs: desejo, necessidade, vontade, necessidade, desejo.


O tempo todo, queremos.
Mas, queremos o que?


Eu quero muitas coisas.


Quero um óculos de sol.
Quero arrumar meu quarto. Quero disposição para isso. E, ao mesmo tempo, quero tempo. Quero um armário maior, pois sem este, não consigo deixar o quarto arrumado. Aliás, quero um quarto novo. Com banheiro. Na verdade, quero um apartamento. Barato e bem-decorado, com minha cara.
Quero uma roupa da Farm. Quero mais roupas da Hering. Quero calças jeans que me sirvam perfeitamente.
Quero mais livros. Sempre quero mais livros. A minha lista de desejos nunca para de crescer. Quero um lugar para guardar meus livros. E uns três anos de férias para conseguir lê-los. Aliás, quero férias permanentes, para poder ficar lendo o resto da vida. Nem assim eu leria tudo que gostaria de ler, tenho certeza.
Quero uma vida mais musical. Mais shows, mais concertos eruditos, mais MPB, mais rock'n'roll. Quero tempo de organizar meu iTunes. Quero baixar mais. Queria não ter que baixar ilegalmente, mas a vida não permite.
Quero alunos mais inteligentes. Sou idealista. Quero chefes mais ágeis e mais organizados. Mais honestos, também. Quero receber todo meu salário, todo mês. Quero o que me devem do mês passado. Quero pagar as contas do fim do mês sem ter que recorrer à poupança.
Quero mais paciência e mais tolerância.
Quero menos 6 quilos e menos 10 centimetros de cintura. Mais uns 4 centimentros de busto. Quero correr pelo menos uma hora. Quero não ter dor no joelho.
Quero gostar de cerveja, pois acho que é um fator socializador. Não quero me sentir excluída por um detalhe.
Quero ir à todos os médicos que preciso ir, sem me enrolar. Quero achar um dentista que me agrade e criar o hábito de consultá-lo duas vezes ao ano.
Quero um carro que se auto-estacione. Quero ser livre da obrigação de saber fazer baliza. Quero um carro que não consuma muita gasolina e que não polua o meio ambiente. Quero mais consciência ecológica. Não só para mim, para todos.
Quero plantar árvores. Quero sentar debaixo de árvores e olhar o céu. Quero tranquilidade e paz.
Quero mais idas ao cinema. Quero assistir mais filmes. Quero uma locadora decente na cidade em que moro.
Quero falar francês. Quero voltar à França. Quero me apaixonar por Paris novamente. Quero voltar à estudar italiano. Quero comer pizza em Napoli e caminhar em Cinque Terre.
Quero cabelos mais compridos e mais fortes. Uma sobrancelha que fique sempre bem desenhada. Unhas que não quebrem e esmaltes que não descasquem. Preciso de um conjunto de pincéis de maquiagem decente.Quero criar o hábito de usar sombra. E quero melhorar o meu traço do delineador.
Quero paz na minha família. Quero uma família mais unida, dos dois lados.
Quero mais amigos, porque amigo sempre é bom. Quero estar mais com os amigos que já tenho. Quero ser mais compreensiva. Mais espontânea. Menos rancorosa. Ter mais capacidade de perdoar. Quero menos desentendimento. Quero mais tempo livre para estar com as pessoas que eu amo.
Quero mais coragem e mais ousadia.
Quero menos neurose. Mias confiança.
Quero paz de espírito.

Quero mais vida. Mais viver. Mais capacidade de aproveitar.




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É muito querer.



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o coração, parado.






me emocionei ouvindo isso:


"so what happens when the heart just stops
Stops caring for anyone
The hollow in your chest dries up
And you stop believing

So what happens when the heart gives up
But the body goes on living
The blood crawls to a slow and stops
And flows away

(...)


There is a hollow in my chest
The time I won't forget
There is no comfort in the eyes
They put us always to the test
I can't prepare myself for that
But I work it out in time
There is a love that flows between us
Ever-changing everyday
I worked myself up to a crawl
But I'm not fearing it at all
We have no reason left to stay
And that's why we're leaving
And there was no answer in the dust
And the one I feared to trust
There is a lie that drags us
Beating and pulling into disappointment"




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para pensar, numa sexta-feira ao meio dia
ou para traduzir os pensamentos de toda semana.



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domingo, 18 de outubro de 2009

o amor [2]

aí que voltei para casa, domingo a noite, ouvindo (e cantando) isso:





e fui fazendo um balanço do final de semana na minha mente. e fiquei pensando como essa música é uma verdade. porque nada do que fiz foi extremamente caro, extremamente elaborado, extremamente luxuoso. não precisou de muito. mas foi um baita final de semana. e foi um baita final de semana por causa do amor. todas as formas de amor.

o amor que se vê quando se encontra um casal de amigos que não se via há quase seis meses, e parece que foi ontem que vocês se viram, e que conseguem te fazer ficar confortável, mesmo estando solteira. o amor de ouvir um "sara" e ver um sorisso no rosto do moço do restaurante.
o amor dos alunos, que te fazem elogios, te fazem dar risada.
o amor presente em um almoço de família em que não há brigas.
o amor que circunda um encontro de quatro amigas tomando chimarrão no sol e comendo torta de maçã. o amor que faz com que essas mesmas amigas não se importem de ser convidadas a se retirar da sua casa. o amor que é ter uma amiga que lê coisas para faculdade e faz listinhas, pois acha que você vai gostar de ler as mesmas coisas, que traz um potão de chá verde da china, e carrega pedras da muralha, pois sabe que você tem uma coleção.
o amor de ser chamada para caminhar na tarde de sábado, e de saber que sua companhia é agradável.
o amor que se espalha quando saio com amigos, dou risada. mesmo com os amigos críticos, que às vezes te fazem chorar. o amor de ter uma amiga tão única e tão especial que é só ela que pode ouvir certas confissões, dentro do carro, de madrugada. e de saber que, por mais doente que seja a idéia, ela a entendeu e não julgou.
o amor de receber uma visita de um amigo-irmão no almoço de domingo, e de saber que basta ele estar aqui, sentado no computador ao lado, basta para expressar esse amor.
o amor que vem nos convites via telefone e MSN para tomar chimarrão no domingo a tarde.
o amor que tentei sentir, e que não deu. o amor que foi sentido por mim, e me fez mal. o amor que pode vir de estar sozinha, mas de estar bem.
o amor pela corrida, pela sensação de liberdade que ela proporciona.
o amor que existe na disposição em fazer um autêntico rodízio de pizza para as amigas no domingo a noite. o amor desses encontros, cheios de nostalgia, cheios de admiração, cheios de boas risadas. o amor de ter uma amiga com quem você se comunica só pelo olhar.



o amor. maior ou menor, mais ou menos intenso, mas é amor.
e eu gosto.



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o amor...

e ainda por cima, em francês








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quotes. many of them

esse post será sobre tudo, e será sobre nada. pq tudo e nada é o que há na minha mente. e pq estou a ler coisas interessantes, e preciso registrá-las.



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“Can we possibly imagine love without anxiously following our image in the mind of the beloved? When we are no longer interested in how we are seen by the person we love, it means we are no longer in love.”
— Milan Kundera

"Nós podemos imaginar o amor sem seguir ansiosamente a nossa imagem na mente do amado? Quando nós não estamos mais interessados em como somos vistos pela pessoa que amamos, significa que não estamos mais apaixonados."


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“Te amo sin saber cómo, ni cuándo, ni de dónde,
te amo directamente sin problemas ni orgullo:
así te amo porque no sé amar de otra manera.”
- Pablo Neruda



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"So love the people who treat you right, forget about the ones who don’t, and believe that everything happens for a reason. If you get a chance, take it. If it changes your life, let it. Nobody said that it’d be easy, they just promised it would be worth it."
Grey’s Anatomy

"Então ame as pessoas que te tratam bem, esqueça as que não o fazem, e acredite que tudo acontece por um motivo. Se tiver a chance, aproveite-a. Se ela mudar a sua vida, deixe-a. Ninguém disse que seria fácil, só prometeram que valeria a pena."



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“ There is a way to touch another person that tells them “all of you is good, none of you is wrong, no part of you doesn’t deserve acceptance.” I know what that touch feels like, and it breaks open an inner yolk. You can actually feel the giving way inside, the slow flood of gold filling your heart.
— Years


"Há uma maneira de tocar outra pessoa que diz a elas "tudo em você é bom, nada em você está errado, nenhuma parte de você não merece aceitação." Eu sei como é sentir esse toque, e ele quebra uma gema interna. Você pode realmente sentir dentro de você a vagorasa inundação de ouro preenchendo o seu coração."



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“ There are two kinds of secrets: those we keep from other and those we hide from ourselves."
— Frank Warren


"Há dois tipos de segredos: aqueles que a gente guarda dos outros e aqueles que a gente esconde de nós mesmos."



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“ The possibilities are numerous once we decide to act and not react."
— George Bernard Shaw


"As possibilidades são numerosas a partir do momento em que decidimos agir e não reagir."



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“A single event can awaken within us a stranger totally unknown to us. To live is to be slowly born."
— Antoine de Saint-Exupéry



"Um único evento pode despertar dentro de nós um estranho que nos é completamente desconhecido. Viver é nascer lentamente."



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sábado, 10 de outubro de 2009

as coisas que devemos fazer

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Numa das andanças virtuais, há muito tempo, encontrei esse post aqui. e pensei que daria uma boa reflexão e serviria como inspiração, qualquer dia. A inspiração da autora foi o filme Antes de Partir (título horrível, filme bem mais ou menos, mensagem bem clichê).
Enfim... a idéia é boa. O que deveríamos (ou gostaríamos) de fazer antes de morrer?
Além do esquema plantar uma árvore (fiz), escrever um livro (também fiz) e ter um filho (não sei se quero fazer), é claro.

Claro, não há garantias de que faremos. Pode ser que (espero que não) morramos amanhã. Pode ser que vivamos muito tempo. Mas acho a idéia de listas sempre interessante. Essa, em particular, pode servir como inspiração para tornar os dias menos monótonos e a vida mais doce, não?


a lista do post é a seguinte:

1. Andar na carona de uma motocicleta (já fiz)
2. Namorar (ou ficar) alguém que tenha tatuagens visíveis (não. não. como não?)
3. Comprar um kit de ferramentas e aprender a usá-lo
4. Viajar sozinha (yeah!)
5. Passar um dia no melhor spa que puder pagar (eu quero!)
6. Dirigir rapidamente (já fiz, mas parei com essa vida)
7. Namorar (ou ficar) alguém mais velho (ah, sim... ;) )
8. Namorar (ou ficar) alguém mais novo que você (4 anos conta como mais novo, né?)
9. Morar em um país estrangeiro (sim)
10. Ter um romance com alguém que não fale inglês - ou português, no nosso caso (sim)
11. Encontrar algum de seus ídolos
12. Fazer algo que seus amigos não aprovem (quando se tem amigos muito diversificados, algum deles sempre vai aprovar qualquer coisa que você fizer, eu acho)
13. Mergulhar na sua própria psicologia (acho que me conheço bem, até)
14. Orgulhar-se do seu sorriso e risada (eu gosto!)
15. Morar sozinha (não é a situação atual, mas já foi)
16. Aprender a dizer não (preciso!)
17. Dar tempo a uma causa em que você acredite (já fiz, preciso fazer de novo)
18. Perdoar os seus pais por qualquer coisa que eles tenham feito errado (complicou)
19. Ter algumas fotos suas que você realmente gosta (tenho. poucas, mas tenho)
20. Aprender a dirigir (meio mal, mas dirijo)
21. Tornar-se melhor em discursos em público (ahm, não sou a pior, nem a melhor)
22. Entender quão afortunado você é (mais uma complicação)
23. Quebrar seus comportamentos destrutivos (quem? eu? nem tenho nada disso!)
24. Desenvolver o seu visual e assustar-se: compre roupas diferentes (adoro, desde cedo)
25. Apaixonar-se perdidamente e loucamente





A minha lista?
Começaria com apaixonar-se, pois é algo que eu muito gostaria de fazer e que sinto que não me sentirei completa sem isso. Passaria por pintar os cabelos de vermelho, pois para mim sempre foi uma experiência interessante. Teria um item dedicado a ver o sol nascer acompanhado de amigos depois de uma festa. Ir a um show de rock, de uma banda grande. Ir para Tailândia e para Índia. Ler vários livros. Aprender a cozinhar, ter um prato como sua especialidade. Aprender a flertar. Aprender a dançar. Ter um animal de estimação. Encontrar algum esporte que você realmente goste. Encontrar um emprego que te satisfaça. Ter amigos, bons amigos. Manter as amizades. Superar as brigas, ou esquecer as que não podem ser superadas e seguir em frente. Dar risada até a barriga doer - muitas vezes. Aceitar seu corpo com ele é, e ser feliz com isso. Beijar um estranho. Fazer uma viagem romântica a dois - de preferência a Paris. Permitir-se uma tarde de compras, sem controle. Aprender a dar nó em gravata. Aprender a trocar fralda. Ser dinda. Passar tempo com crianças, elas são revigorantes. Quando viajar, passear por cemitérios, eles podem ser fascinantes. Achar um ou mais assuntos que te atraiam e estudar sobre eles. Desenvolver algum sentido de espiritualidade. Comer alguma coisa realmente diferente. Ir a um jogo de futebol. Pular de para quedas (ou coisa semelhante). Aprender a aceitar críticas E elogios. Tomar banho de cachoeira. Passar um Natal em New York. Cantar em um karaokê. Comprar um vestido deslumbrante - mesmo que ele seja caro, e que você não tenha ocasião para usá-lo. Andar de montanha-russa. Superar pelo menos um dos seus medos. Andar de balão. Fazer uma tatuagem. Participar de uma corrida. Andar de bicicleta em Amsterdam. Ver um show de tango em Buenos Aires. Aprender a surfar. Fazer um cruzeiro. Ver baleias de perto. Ver leões.


Já falei amar?
Amar a família, os amigos, amar alguém acima de tudo.

Essencial, mesmo, só isso.



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sexta-feira, 9 de outubro de 2009

arranhões

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"You buy things and you keep them clean. You take care of them. Keep them in a special pocket. Away from keys and coins. Away from other things that should be kept clean and taken care of as well. Then they get scratched. And scratched again. And again. And again. And again. Soon, you don't care about them anymore. You don't keep them in a special pocket. You throw them in the bag with everything else. They've surpassed their form and become nothing but function. People are like that. You meet them and keep them clean. In a special pocket. And then you start to scratch them. Not on purpose. Sometimes you just drop them by accident or forget which pocket they're in. But after the first scratch, it's all downhill from there. You see past their form. They become function. They are a purpose. Only their essence remains."



"Você compra coisas e as mantém limpas. Você cuida delas. Mantem elas em um bolso especial. Longe de chaves e moeadas. Longe de outras coisas que deveriam ser mantidas limpas e cuidas também. Então elas arranham. E arranham novamente. E novamente. E novamente. E novamente. Logo, você não se importa mais com elas. Você não as mantem em um bolso especial. Você as joga na sacola com todo o resto. Elas perdaram a forma e se tornaram nada mais do que função. As pessoas são assim. Você as conhece e as mantem limpas. Em um bolso especial. E daí você começa a arranhá-las. Não de propósito. Às vezes você só as deixa cair sem querer ou esquece em que bolso elas estão. Mas depois do primeiro arranhão, é só ladeira abaixo. Você enxerga além da forma delas. Elas se tornam função. Elas são um motivo. Somente a essência delas permanece."



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daqui

domingo, 4 de outubro de 2009

preso, porém com asas

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"O ALFABETO

Gosto muito das letras do meu alfabeto. À noite, quando a escuridão é demais, e o único vestígio de vida é o pontinho vermelho da luzinha do televisor, vogais e consoantes dançam para mim uma farândola de Charles Trenet: “De Venise, ville exquise, j’ai gardé lê doux souvenir...” De mãos dadas, elas atravessam o quarto, giram em torno da cama, percorrem a janela, serpeiam sobre a parede, vão até a porta e saem para dar uma volta.

E S A R I N T U L O M D P C F B V H G J Q Z Y X K W

A aparente desordem desse alegre desfile não é fruto do acaso, mas de cálculos inteligentes. Mais que um alfabeto, é uma hit-parade em que cada letra é classificada em função de sua freqüência na língua francesa. Assim, o E vai caracolando na frente, e o W enganchado atrás para não ser largado pelo pelotão. O B bronqueia porque ficou perto do V, com o qual é sempre confundido. O orgulhoso J se espanta por estar tão longe, ele que começa tantas frases ([2]). Envergonhado porque o H não hesitou em lhe roubar o lugar, o gordo G vai grunhindo de raiva, e, o tempo todo no “tu lá tu cá”, o T e o U saboreiam o prazer de não terem sido separados. Toda essa reclassificação tem um porquê: facilitar a tarefa de todos os que quiserem tentar comunicar-se diretamente comigo.

O sistema é bem rudimentar. Meu interlocutor desfia diante de mim o alfabeto versão ESA... até que, com uma piscada, eu o detenha na letra que é preciso anotar. Aí recomeça a mesma manobra para as letras seguintes e, não havendo erro, depressinha conseguimos uma palavra inteira, depois segmentos de frases mais ou menos inteligíveis. Essa é a teoria, as instruções de uso, a nota explicativa. Mas há a prática, a irreflexão de uns e o bom senso de outros. Nem todos agem da mesma maneira diante do código, como também se chama esse método de tradução de meus pensamentos. Quem costuma fazer palavras cruzadas e jogar mexe-mexe ganha disparado. As garotas se saem melhor que os garotos. De tanto praticar, algumas conhecem o jogo de cor e nem usam o sacrossanto caderno, metade memento, para lembrar a ordem das letras, metade bloco de notas, onde são registradas todas as minhas frases, como oráculos de pitonisa.

Aliás, eu me pergunto a que conclusões chegarão os etnólogos do ano três mil, se por acaso folhearem esses cadernos onde se encontram, de cambulhada, numa mesma página, frases como: “A físio está grávida”, “Principalmente nas pernas”, “É Arthur Rimbaud”, e “A França jogou mal pra burro”. Tudo isso entremeado de patacoadas incompreensíveis, palavras mal compostas, letras perdidas e sílabas desarrimadas.

Os emotivos são os que se perdem mais depressa. Com a voz em surdina, adivinham o alfabeto a mil por hora, anotam algumas letras a esmo e, diante do resultado sem pé nem cabeça, exclamam com o maior descaro: “Sou uma nulidade!” Afinal de contas, até que é repousante, pois eles acabam assumindo toda a conversa, fazendo perguntas e dando respostas sem que eu precise ficar instigando. Tenho mais medo dos evasivos. Se pergunto: “Como vai?”, respondem “Bem”, e no ato já me passam a jogada. Com esses, o alfabeto vira tiro de barragem, e é preciso ter duas ou três perguntas prontas de antemão para não soçobrar. Os pés-de-boi é que nunca se enganam. Anotam todas as letras, escrupulosamente, e nunca procuram penetrar o mistério de uma frase antes que ela esteja terminada. Nem pensar em completar uma palavra sequer. Com o pescoço na forca eles não acrescentarão por iniciativa própria o “melo” ao “cogu”, o “mico” que segue o “atô” e o “nável” sem o qual não há como acabar o “intermi” nem o “abomi”. Essa lentidão torna o processo enfadonho, mas pelo menos são evitados os contra-sensos em que se atolam os impulsivos quando deixam de confirmar suas intuições. No entanto, entendi a poesia desses trocadilhos no dia em que, como eu pedisse meus óculos (lunettes), alguém me perguntou com grande elegância o que eu queria fazer com a lua (lune)..."


O escafandro e a borboleta
Jean-Dominique Bauby




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na verdade, acho que já tinha ouvido falar desse livro na época do lançamento dele. mas, como muitos outros que eu pensei "putz, deve ser tri bom", ficou esquecido em algum canto da memória. (aliás, deve ser interessante olha a imensa lista de livros que está perdida na minha menória, são tantos que eu gosto, tantos que eu gostaria de ter, de ler, de comprar...)



agora, esse ano, com o lançamento do filme homônimo, o filme voltou às patreleiras virtuais (é uma pena que eu não disponha de uma livraria real decente para tocar nos livros) e ficou me perseguindo.
o título, obviamente, me chamou atenção, como tudo que contêm esses seres voadores. juntar uma borboleta a um escafandro, então, é pelo menos instigante. quando li o resuminho, já estava apaixonada, sem nem mesmo pegar o livro na mão.
iniciamos uma paquera. mas foi uma paquera longa, demorada, paciente (e as melhores não são assim?). cheguei a comprá-lo para uma amiga e avisar "quero emprestado".
mas a paquera continuou, continuou.

semana passada, finalmente, tomei coragem e convidei o livro para sair. estava muito barato, não pude resistir aos R$ 9,90 do submarino. e, assim que ele chegou, dei um beijo nele e não larguei mais.

a paixão se concretizou.

é lindo, é poético, e é uma lição de vida, sem ser clichê. é intelectual, mas de uma maneira simples. é bem-humorado e espirituoso, porém dramático.
é plural.


e quem não se apaixona por plural?


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sexta-feira, 2 de outubro de 2009

perguntas e respostas

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“have patience with everything that remains unsolved in your heart. try to love the questions themselves, like locked rooms and like books written in a foreign language. do not now look for the answers. they cannot now be given to you because you could not live them. it is a question of experiencing everything. at present you need to live the question. perhaps you will gradually, without even noticing it, find yourself experiencing the answer, some distant day.” rainer maria rilke


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"tenha paciência com tudo que permanece mal resolvido no seu coração. tente amar as próprias questões, como quartos trancados e como livros escritos em uma língua estrangeira. agora não procure pelas respostas. elas não podem ser dadas a você porque você não poderia vivenciá-las. é questão de experimentar tudo. no presente, você precisa viver a pergunta. talvez você vai, gradualmente, sem nem mesmo reparar, encontrar-se experimentando a resposta, em algum dia distante."




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