quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

da carência

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Faço pose de independente, de moderna, de individualista.
Mas qualquer pessoa que me conheça minimamente, sabe que a verdade é que sou carente.
A verdade é que gosto de me sentir querida, de me sentir amada. Gosto que me digam coisas bonitas. Gosto que apreciem a minha companhia. Gosto de mensagens fofas e inesperadas no meu celular. Gosto de emails de amigos distantes. Gosto de gente que lê o que eu escrevo. Gosto de sorrisos sinceros. Gosto de abraço, gosto de beijo, gosto de cafuné. Gosto de 'eu te adoro' e 'eu te amo'. Gosto de cabeça deitada no colo. Gosto de gente que se gosta reunida, sem fazer nada. Gosto de risadas compartilhadas. Gosto de braços se tocando. Gosto de mãos dadas. Gosto de palavras doces. Gosto de preocupações bobas. Gosto de 'por favor' e 'muito obrigada'. Gosto de surpresas. Gosto de presentes, gosto de lembranças. Gosto de convites. Gosto de companhia. Gosto de braços ao meu redor.

Mais do que gosto, preciso.


Preciso saber se você gosta de mim.



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segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

pensamentos praianos soltos

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A rotina da falta de rotina é a mais difícil de se acostumar.


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Viajar sempre para o mesmo lugar nas férias é o mesmo que não ter o que fazer, só ter obrigação de aproveitar.


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E como faz para desligar? Para desconectar? Esquecer que o mundo existe? Desligar o celular, não ligar o computador? Não abrir o jornal de manhã?



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É mais difícil do que parece.


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Eu acho que sei o que ele pensa, mas não tenho certeza.
Digo que não quero saber, mas a dúvida me corrói.
Tento me consolar dizendo que não sei o que quero, mas também sei que nunca saberei.
Digo que quero deixar tudo acontecer, mas temo que deixar acontecer é deixar acabar.



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E depois que tudo se torna chato e repetitivo, o que se faz?



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domingo, 27 de dezembro de 2009

dos sentimentos, das perguntas e das decisões

"Mas digo para mim mesmo: se ela sabia o que eu sentia, como é que não tinha opinião formada, como é que pode vacilar quanto à atitude de assumir? Podem ser várias as explicações: por exemplo, que, na realidade, projete pronunciar o terrível "basta", mas tenha considerado demasiado cruel me dizer isso assim, à queima roupa. Outra explicação: que ela tenha descoberto (descobrir, nesse caso, significa intuir) o que eu sentia, o que sinto, mas, apesar disso, não tenha acreditado que eu chegasse a expressá-lo em palavras, em uma proposição concreta. Daí a vacilação. Mas ela veio tomar café "por isso". O que quer dizer? Que desejava que eu fizesse a pergunta e, portanto, estabelecesse a dúvida? Quando alguém deseja que lhe façam uma pergunta desse tipo, em geral é para responder com um sim. Mas também pode ter desejado que eu formulasse, por fim, a pergunta para não seguir esperando, tensa e incômoda, e estar em condições, de uma vez por todas, de dizer que não e recuperar o equilíbrio. Além disso, há o namorado, o ex-namorado. Como ficou essa questão? Não digo quanto aos fatos (os fatos, evidentemente, indicam o fim da relação), mas sim no íntimo dela. Serei eu, afinal, o impulso que faltava, o empurrãozinho que sua dúvida esperava para voltar para ele? Além disso, existe a diferença de idade, minha condição de viúvo, meus três filhos, etc. E me decidir sobre que tipo de relação gostaria verdadeiramente de manter com ela. Isso é mais complicado do que parece."



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muito complicado, realmente.



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Benedetti, de novo



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"(...) Mas é que não posso ser um desses tipos que andam sempre de peito aberto. Para mim é difícil ser carinhoso, inclusive na vida amorosa. Sempre dou menos do que tenho. Meu modo de amar é esse, meio reticente, reservando o máximo somente para as grandes ocasiões. Talvez haja uma razão para isso na minha mania por matizes, por graduações. De modo que, se sempre estivesse me expressando no limite, o que deixaria para esses momentos (há uns quatro ou cinco em toda uma vida para cada indivíduo) em que alguém deve dar tudo de si? Também sinto um leve receio de ser piegas, e para mim pieguice é justamente isto: andar sempre com os sentimentos à flor da pele. Para aquele que chora todo os dias, que recurso lhe restará quando uma grande dor se abater sobre ele, uma dor para qual sejam necessárias as máximas defesas? Sempre há o suicídio, mas isso, depois de tudo, não deixa de ser uma solução pobre. Quero dizer que é praticamente impossível viver em uma crise permanente, fabricando-se uma impressionabilidade em que a pessoa possa submergir (uma espécie de banho diário) em pequenas agonias. As boas senhoras dizem, com seu habitual sentido de economia psicológica, que não vão ao cinema assistir a filmes tristes porque "a vida em si já é bastante amarga". E têm certa razão: a vida é suficientemente amarga para que, além disso, fiquemos chorosos, melindrosos ou histéricos só porque algo se antepôs em nosso caminho e não nos deixa seguir nosso percurso até a felicidade, que às vezes vai lado a lado com o desatino.


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Mario Benedetti
A trégua



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da série Leituras de férias
fazia tempo que queria ler ele, e está valendo a pena
simples, mas profundo


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sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

do encontro

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"Ele trazia o coração envolto por uma casca. De modo que nem parecia haver ali uma batida. Ele era um morto-vivo, sorrindo para o mundo uma alegria comprada em loja. Um dia ele topou com ela. Ela, sim, trazia o seu coração nu, carne viva, pulsando convicto. E foi assim que os dois corações nunca se encontraram. Um dia a casca do coração dele se quebrou e quem ficou nu foi ele, diante do que sentia. Pegou seu próprio coração com as mãos, quente feito brasa, e o jogava para um lado e para o outro sem saber o que fazer com aquele amor que lhe queimava a pele. Quando olhou aquela bomba vermelho-sangue, o coração dela explodiu em sorriso. Mas o tempo passou de novo e o que ela viu crescer não foi amor: foi outra casca. Outra dura e forte a esconder mais uma vez aquele músculo frágil, a ponto de nem se ouvirem mais as batidas. E o coração que ela não mais vê, não mais sente. E o dela ganha paz de novo, como quem viveu um sonho breve e acordou."




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segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

dos sentimentos tóxicos

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"Gozado como a gente vai escavando o buraco com uma colherinha de chá - uma concessão mínima, um arredondamento insignificante ou uma levíssima reformulação de determinada emoção para outra que seja um tiquinho mais simpática ou lisonjeira. Não me importava o fato de em si me ver privada de uma taça de vinho. Mas, como a lendária viagem que começa com um único passo, eu já tinha embarcado no meu primeiro ressentimento.
Ressentimento banal, é verdade, mas a maioria deles o é. E, por sua pequenez, me senti obrigada a reprimir. Por falar nisso, essa é a natureza do ressentimento, a objeção que não podemos exprimir. É o silêncio, mais que a queixa, o que torna a emoção tão tóxica, como os venenos que o organismo não expele com a urina. Vai daí que, por mais que eu tentasse ser adulta sobre a questão do meu suco de uva-do-monte, escolhido a dedo por sua semelhança com um beaujolais jovem, lá bem no fundo eu continuava uma pirralha. Enquanto você ficava sugerindo nomes (para meninos), eu revirava o cérebro para saber, no meio de tudo aquilo - fraldas, noites insones, idas a jogos de futebol - pelo que eu devia ansiar."



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Precisamos falar sobre Kevin
Lionel Shriver



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sábado, 12 de dezembro de 2009

as paredes

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"It's kind of messy."

"That's OK."

For Tom Hansen, this was the night everything changed. That wall that Summer so often hid behind, the wall of distance, of space, of casual, that wall was slowly coming down. For here was Tom, in her world, a place few had been invited to see with their own eyes.

And there was Summer, wanting him there. Him, and no one else.

(...)

"I'm free, I'm safe. Then I realize... I'm completely alone. Then I wake up."

As he listens, Tom begins to realize that these weren't stories routinely told. These were stories one had to earn. He could feel the wall coming down. He wondered if anyone else had made it this far, which is why the next six words changed everything.

"I've never told anybody that before."

"I guess I'm not just anybody"



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do 500 dias com ela



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quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

das lições que já deveriam ter sido aprendidas

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Não fale. Seja discreta. Quando as pessoas comentarem sobre a sua discrição, aí mesmo que você precisa cuidar. Mantenha as aparências.

Aprenda a lidar com seus rompantes de tagarelice. Aprenda a ficar quieta.
Dê sua opinião somente quando ela for solicitada.

Mantenha as informações que você recebe dentro de si. Não é tão difícil, não vai te matar. Compartilhe somente o que merece e pode ser dividido. Guarde o restante para si.

Não confie. Não confie na amiga de anos, nem nas pessoas que você conhece há três meses. Não confie em si mesma.


Aprenda. De uma vez por todas, aprenda a viver a sua vida. E a deixar a vida dos outros acontecer da maneira que eles preferem que aconteça.



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tão difícil.



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