domingo, 27 de dezembro de 2009

dos sentimentos, das perguntas e das decisões

"Mas digo para mim mesmo: se ela sabia o que eu sentia, como é que não tinha opinião formada, como é que pode vacilar quanto à atitude de assumir? Podem ser várias as explicações: por exemplo, que, na realidade, projete pronunciar o terrível "basta", mas tenha considerado demasiado cruel me dizer isso assim, à queima roupa. Outra explicação: que ela tenha descoberto (descobrir, nesse caso, significa intuir) o que eu sentia, o que sinto, mas, apesar disso, não tenha acreditado que eu chegasse a expressá-lo em palavras, em uma proposição concreta. Daí a vacilação. Mas ela veio tomar café "por isso". O que quer dizer? Que desejava que eu fizesse a pergunta e, portanto, estabelecesse a dúvida? Quando alguém deseja que lhe façam uma pergunta desse tipo, em geral é para responder com um sim. Mas também pode ter desejado que eu formulasse, por fim, a pergunta para não seguir esperando, tensa e incômoda, e estar em condições, de uma vez por todas, de dizer que não e recuperar o equilíbrio. Além disso, há o namorado, o ex-namorado. Como ficou essa questão? Não digo quanto aos fatos (os fatos, evidentemente, indicam o fim da relação), mas sim no íntimo dela. Serei eu, afinal, o impulso que faltava, o empurrãozinho que sua dúvida esperava para voltar para ele? Além disso, existe a diferença de idade, minha condição de viúvo, meus três filhos, etc. E me decidir sobre que tipo de relação gostaria verdadeiramente de manter com ela. Isso é mais complicado do que parece."



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muito complicado, realmente.



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Benedetti, de novo



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