terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

ideal?

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"Durante as duas horas que se passaram, ele esteve num sonho absorto, que diluiu toda sensação de tempo e toda consciência das outras partes da sua vida. Mesmo a consciência da própria existência desapareceu. Foi lançado num presente puro, livre do peso passado ou de qualquer preocupação acerca do futuro. Em retrospecto, se bem que nunca no momento, parece uma felicidade profunda. É um pouco semelhante ao sexo, pois ele se sente em um outro meio, porém é menos obviamente prazeroso e, sem dúvida, não é sensual. Tal estado mental traz uma satisfação que ele nunca encontra em nenhuma outra forma de distração passiva. Livros, cinema, até música não conseguem lhe proporcionar isso. Trabalhar com outras pessoas faz parte da sensação, mas não é tudo. Essa dissociação benevolente parece requerer dificuldade, demoradas exigências de concentração e destreza, pressão, problemas para resolver, e até perigo. Sente-se calmo, à vontade, plenamente apto a existir. É um sentimento de vazio esclarecido, de alegria profunda e silenciosa. Sem contar a música de Theo e fazer amor, estar de volta ao trabalho lhe trouxe mais felicidade do que qualquer outro momento desse dia de folga, o seu precioso sábado. Quando se levanta para sair da sala de cirurgia, conclui que deve haver algo errado com ele."



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Ian McEvan
Sábado



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