quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Deus e o amor

"O que um sentimento como o amor poderia significar a um ser onipotente e onisciente como eu? O amor só pode surgir onde haja falhas, perdas, faltas, fraquezas, miopia. Para dizer a verdade, o amor foi um subproduto não-planejado da espécie humana. Parece óbvio agora, em restrospecto, mas por algum motivo não me ocorreu na época: se você cria criaturas física e psicologicamente imperfeitas, elas tenderão a estender as mãos umas para as outras. Apenas os humanos (e alguns animais por eles domesticados) sabem como amar. Talvez seja o que me dê a estranha impressão de que eles são livres e de que algo, de alguma maneira, é trocado entre eles independentemente de mim, essa coisa chamada amor... posso sentir em seus olhos... no contato de suas peles... no emaranhado incoerente de suas palavras... Mesmo que não passe de uma reação química, passível de ser reproduzida em laboratório, acho empolgante de ver e me deleito com a ilusão de que alguma coisa, pelo menos, foge do meu controle."


(do livro Dolce Agonia, Nancy Huston)



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Genial (como diz o Metz)
Deus falando sobre o amor. Deus fala (escreve) nesse livro. E escreve coisas desse tipo. E é real, e é impactante. E por isso é que recomendo.
(aliás, da mesma autora, existe o Marcas de Nascença, muito bom)


E é bom ter algo viciante assim pra ler em momentos como esse...

Um comentário:

GR Folheados disse...

Lindo o trecho do livro!
Vou querer emprestado depois,já pode colocar na lista dos empréstimos! ;)
Beijos e bom carnaval!