terça-feira, 5 de janeiro de 2010

admirável, sem dúvida

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"- Você nunca teve a sensação de ter em si alguma coisa que, para se exteriorizar, espera somente que você lhe dê a chance? Uma espécie de força excedente que você não esteja utilizando, algo assim como aquela água toda que se precipita na cachoeira em vez de passar pela turbinas?
Dirigiu a Bernard um olhar interrogativo.
- Você se refere às emoções que se poderia experimentar se as coisas fossem diferentes?
Helmholtz balançou a cabeça.
- Não é bem isso. Estou pensando numa sensação estranha que experimento às vezes, a sensação de ter alguma coisa importante a dizer e o poder de exprimi-la... só que eu não sei o que é, e não posso utilizar esse poder. Se houvesse algum outro modo de escrever... Ou então, outros assuntos a tratar... - calou-se; depois: - Você vê, eu sou bastante hábil em inventar frases, quero dizer, essas expressões que nos dão um sobressalto, quase como se a gente se sentasse sobre um alfinete, tão novas e excitantes elas parecem, embora se refiram a alguma coisa hipnopedicamente óbvia. Mas isso não parece suficiente. Não basta que as frases sejam boas, seria preciso que o que delas se fizesse também fosse bom."


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"A felicidade é uma soberana exigente, sobretudo a felicidade dos outros. Uma soberana muito mais exigente do que a verdade, quando não se está condicionado para aceitá-la sem restrições."



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"- Livraram-se deles. Sim, é bem o modo de os senhores procederem. Livrar-se de tudo o que é desagradável, em vez de aprender a suportá-lo. Se é mais nobre para a alma sofrer os golpes da funda e as flechas da fortuna adversa, ou pegar em armas contra um oceano de desgraças e, fazendo-lhes frente, destruí-las... Mas os senhores não fazem nem uma coisa nem outra. Não sofrem e não enfrentam. Suprimem, simplesmente, as pedras e as flechas. É fácil demais."




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Admirável mundo novo
Aldoux Huxley



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