domingo, 17 de janeiro de 2010

há beleza em tudo, até em um velho safado

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" - ei, Bubu, uma garrafa do melhor vinho francês... toma devagar, vai te fazer bem. inclusive dormir. fica contente. não vou dizer que a gente te ama, é fácil demais. e se quiser vir lá para baixo, para dançar e cantar, bater papo, tudo bem. faça o que você achar melhor. o vinho está aqui.
me entrega a garrafa. ergo como se fosse uma corneta maluca qualquer, de novo e mais uma vez. pela cortina rasgada, salta um pedaço da lua minguante. é uma noite simplesmente perfeita; não é uma prisão; longe disso...
de manhã, quando acordo, desço para mijar, volto do banheiro, e encontro os dois dormindo naquele sofá tão estreito que mal dá para um, só que são dois, com os rostos colados, adormecidos, pra que ser peigas??? sinto apenas um pequeno nó na garganta, a melancólica constatação imediata da beleza, de que alguém seja capaz, que nem sequer me odeiem... que até mesmo me desejam o quê?...
saio dali resoluto, com dó, sentimento, ressaca, tristeza, o velho Bukowski, sol alto e o céu ainda estrelado (...)"



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Bukowski
em Crônica de um amor louco


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