terça-feira, 3 de março de 2009

e voltamos a rotina?

e eis que eu até penso em escrever, mas dai acabo encontrando alguma coisa que, invariavelmente, é muito mais legal do que qualquer coisa que eu poderia escrever, e diz exatamente aquilo que eu penso.

em época de fim de férias e retorno a rotina, é isso:


"De noite

Geralmente ela sai do escritório sempre no mesmo horário. Quanto mais o fim da tarde se aproxima, mais insuportável se torna a estadia ali. Houve uma época em que não tinha jeito. Seis, sete, oito horas e ainda era pouco. Desejava que os dias tivessem muitas horas a mais pra dar conta de tudo. Mas eram outros tempos e ela não se importava em ficar lá. Na verdade, até gostava. Era um modo de evitar outras coisas que deveria encarar. Servia bem como desculpa o cansaço ou a dor de cabeça ou o sono incontrolável que um dia cheio causava. E ela fazia bem o que fazia porque tinha esperança de que o seus esforços seriam recompensados. Mas, como disse, esses eram outros tempos. Hoje ela sabe que nada do que faça, por melhor que seja, será reconhecido. Conhece a estagnação daquilo que vive em horário comercial e é isso que torna insuportável os seus dias.

Enquanto dirige de volta pra casa, acha engraçado o jeito que os caminhos se tornam imperceptíveis depois de um tempo. É como se o piloto automático fosse ligado e ela nem precisasse prestar mais atenção nos outros carros. Não repara mais nos prédios, nem nos buracos, nem nas pessoas que esperam seus ônibus, todas tão ansiosas para tirar os sapatos quanto ela. Só quando algum motoqueiro nervoso bate no seu retrovisor - porque é distraída e quase sempre invade o meio do corredor que, em tese, seria daqueles que têm moto - é que percebe que está no meio do trânsito, conduzindo o próprio carro. No mais, apenas quando desliga o rádio na garagem é que parece voltar a dar rumo à própria vida. A vida parece outra vez colorida. Ainda que haja trabalho a ser feito, pois tem o cachorro que precisa de atenção, o estômago que precisa de comida, a louça que precisa de água. Ainda assim, não se importa. Está a salvo, afinal.

Então ela deita no chão e fecha os olhos e sente o peito apertado porque sabe que ainda tem mais um monte cenas iguais pela frente. Acomoda-se no ombro do seu melhor pedaço do dia, que já é noite. Daí vem o alívio e uma certa resignação pelas escolhas erradas que fez, e que sabe não poder culpar mais ninguém por elas. Na frente da tevê eles dormem. Na frente da tevê ela sonha com alguma coisa melhor pro resto dos seus dias."



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tirei desse blog aqui, que encontrei nesse meu vício de ler, ler, ler

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