segunda-feira, 20 de abril de 2009

o exorcismo de sara rose

Um dia, lá no começo, naquele tempo em que ainda mediamos muito as nossas palavras, você me disse que tinha curso de exorcismo para acabar com o 'diabo' que meus amigos diziam habitar o meu corpo. Os amigos não estão mais na minha vida para fazer esse tipo de comentário, você não está mais na minha vida para nenhum tipo de exorcismo, e o diabo também não está mais dentro de mim.
Penso muito nele, nesse diabo. Porque na verdade, ele não era um carregava o sentido negativo que a palavra diabo implica. Ao contrário, era um sentimento positivo. Uma alegria de viver. Um sentimento bom, que estava dentro de mim, e que me permitia rir sem nem saber muito bem o motivo. Talvez era a tal felicidade de que tanto falam por ai.
E, aos poucos, o diabo foi mesmo exorcisado. Não sei quando, nem como, muito menos porque, mas ele foi embora. Uma série de eventos foram o afastando de mim. Já faz tempo que não está mais aqui, e às vezes parece que ele nunca vai voltar.
Em alguns poucos momentos, uma sombra do diabo vem aqui perto, me permite dar um sorisso, ter um pensamento feliz. Mas é só uma sombra, e logo ela vai embora. E fica só a escuridão e o vazio.

E tendo ido embora o diabo e prevalecendo o vazio, você, que queria ser o exorcista, acabou indo embora também. E, ironia das ironias, foi embora justamente pela ausência do diabo. Falta-me o brilho no olhar, falta-me o riso fácil, falta-me a malícia, falta-me a alegria de viver. Falta-me a confiança que a presença de tudo isso me dava. Sobra-me insegurança, sobra-me solidão, sobra-me tristeza, sobra-me desespero.
E você, ao invés de ficar e me ajudar a exorcisar tudo isso e fazer com que o diabo voltasse, preferiu esquecer. A situação agravou-se. Sobraram lágrimas, quase me afoguei. Sobram, ainda, dúvidas e questionamentos que ficam a rondar minha mente. Sobra vontade de falar contigo, de ter ver. Sobra uma esperança infantil de que um dia você vai acordar e vai sentir falta de mim, com ou sem diabo, e vai saber admitir todos esses sentimentos.
Sobra, por outro lado, uma racionalidade que me pede pra esquecer tudo isso. Que clama para que logo chegue a raiva por tudo o que aconteceu. Que pede para que eu esqueça todas as coisas bonitas que você falou. Que fica feliz por não ter mais orkut pra ficar mantendo obsessões e olhando seu perfil. Que luta contra si mesmo toda vez que vê teu nome no MSN. Que sabe que só com o tempo que tudo isso vai embora.
E que sabe que, talvez, também, com o tempo, o diabo volte. E quem sabe, permaneça por mais tempo. Pode ser que demore, pode ser que ele nunca volte a ser uma presença tão forte como era há dois ou três meses. E você, que não teve nem a paciência nem o carinho pra esperar esse momento chegar, não vai estar lá pra compartilhar.

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