segunda-feira, 10 de maio de 2010

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"Curiosamente, as lembranças dela eram mais consoladoras do que dolorosas. O que não fazia sentido. Ele sabia que devia estar com raiva. Sabia que provavelmente estava. Sabia que ficaria melhor se a odiasse, não necessariamente muito, mas um pouquinho. Mas não queria odiá-la, e isso não vinha de uma forma natural, e era provável que não adiantasse mesmo. ela era uma perfeita idiota, e isso era uma pena. mas idiota não era o mesmo que má. talvez essa fosse uma distinção que ele deveria ter admitido algum tempo antes.
Não queria pensar assim - no que estava sentindo. Preferia pensar no que fazia e no que iria fazer. Mas Irina não percebia que não pensar jno que se sentia não era igual a não sentir nada. Ele não gostava de ficar sem jeito, e tinha suposto que ela compreendia. Mas parecia que não. Ou talvez ela simplesmente não desse a mínima para o que ele sentia, embora lhe fosse difícil acreditar nisso. De qualquer modo, quanto a essa merda de sentir, agora só havia uma regra, que ele se impunha com disciplina militar: estava livre para pensar em qualquer outra coisa que quisesse. Mas era absolutamente proibido imaginar que ela pudesse voltar."


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Lionel Shriver
O mundo pós-aniversário



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