segunda-feira, 10 de maio de 2010

das coisas que são difíceis de admitir

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"-Não sei se algum dia admiti isso para você com franqueza. Sempre quis que você me achasse ambiciosa... sabe, uma profissional séria e tudo mais. E eu gosto... ou gostava, e suponho que voltarei a gostar do que faço, e de tentar fazê-lo bem feito. Mas a verdade é que só existe uma coisa que eu realmente sempre quis, mais do que qualquer outra coisa, e não é o sucesso profissional. Eu poderia viver sem ele. A única coisa sem a qual não posso viver é um homem. Isto deve parecer pavoroso, dito assim, às claras! Mas, correndo o risco de parecer idiota, eu queria um amor verdadeiro e duradouro. Acho que até envelhecer seria interessante, desde que eu pudesse fazê-lo ao lado de outra pessoa. Eu queria um companheiro. Talvez não até o último suspiro; alguém sempre tem que ir na frente. Mas pelo menos até os setenta e tantos anos, sabe? A questão é que... eu achava que essa era uma ambição modesta. Achava que, almejando tão pouco, eu teria uma chance de conseguir o que queria. E agora, mesmo com um objetivo tão mísero, fracassei. Eu suporto ficar sozinha, não me entenda mal. Fica tudo bem. Mas não achei que estivesse pedindo tanto, Lawrence, especialmente considerando que eu me dispunha a fazer um pacto com o universo, sacrificando tudo em nome disso: dinheiro, fama, prestígio, a salvação do mundo, a descoberta da cura do câncer. Por isso, eu me sinto lesada. Tudo o que eu pedia era para caminhar de mãos dadas rumo ao pôr do sol, e até isso me foi negado."



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Lionel Shriver
ainda


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