segunda-feira, 10 de maio de 2010

do amor ideal

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"Esse amor era incomumente completo. Irina amava tudo em Lawrence, tal como ele era - inclusive sua rispidez com as outras pessoas, sua má postura, sua dependência da televisão, um vazio pernicioso que ela jamais conseguira preencher em todos aqueles anos de vida em comum. Ao mesmo tempo, sentia um relaxamento. O amor romântico é uma corda esticada e, em certos aspectos, uma luta, pois sempre nos debatemos, se não contra a pessoa amada em si, contra nossa própria escravização indigna a outro ser humano. Era possível que houvesse um tipo de amor diferente, uma vez empatado o cabo-de-guerra - um amor solto, generoso e seguro, um amor relaxante, tranquilo e descontraído, como quem se reclina com um copo de vodca-tônica e põe os pés para cima da balaústrada da varanda, depois de uma exaustiva tarde de esportes. Mas era igualmente possível que, enfim acolhendo Lawrence em sua totalidade, não mais batalhando contra as muitas deficiências que gostaria de corrigir, não mais se enfurecendo com os numerosos aspectos em que ele frustrava o ideal, Irina houvesse desistido dele."



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Lionel Shriver
O mundo pós-aniversário
o último trecho, prometo.



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