segunda-feira, 25 de maio de 2009

sobre o amor, as ilusões, o fim e as assombrações

"Eu me perguntei como Chloe podia sequer se justificar por pensar que basearia sua vida emocional ao redor de um canalha como eu. Se ela parecia estar um pouquinho apaixonada, não seria simplesmente porque ela não havia me compreendido? Era o pensamento marxista clássico, em que o amor é desejado, mas impossível de aceitar, por medo do desapontamento que acontecerá quando o verdadeiro eu for revelado: um desapontamento que em regra já ocorreu (talvez nas mãos de um pai) mas agora é projetado para o futuro. Marxistas sentem a essência de seu ego tçao profundamente inaceitável que a intimidade com certeza os revelará como charlatães. Portanto, por que aceitar o presente do amor, quando é certo que ele lhe será tomado daqui a pouco? Se você me ama agora, é só porque você não está me vendo por inteiro, pensa o marxista, e se você não está me vendo por inteiro, seria loucura se acostumar com seu amor até isso acontecer.
Uma aliança marxista ortodoza será, por esses motivos, fundamentada e dependerá de uma troca desigual de afeto. Embora partindo de uma posição de amor não correspondido, eles desejam ver seu amor retribuído, os marxistas incoscientemente prefeririam que seus sonhyos permanecessem no reino da fantasia. Prefeririam que seu amor não fosse muito mais que reconhececido, que seu parceiro não ligasse com muita frequencia para eles, ou que tivesse a decencia de não estar emocionalmente disponível a maior parte do tempo, uma situação de acordo com o seu senso de valor: por que os outros deveriam pensar melhor deles do que eles pensam de si próprios?"

Alain de Botton
em Ensaios de Amor


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"somos todos arqueólogos de nossos amores. quer queira, quer não, você vai ter que pisar nestes escombros, segurando uma lanterna, e olhar tudo com atenção para achar ali o que pode ser guardado. esta é a sua coragem. você junta um retalhinho de pano, um pedaço de uma foto que resistiu, um cálice que não estilhaçou, uma caixinha que não queimou. com concentração, paciência e gentileza, você enche uma sacolinha com as coisas que representam uma experiência que jamais será esquecida.

e aí você se dá conta, entre o espanto e o desalento, de que será obrigado a desistir (do que sentia). não era a sua vontade, mas viver é assim mesmo. casas se erguem, você vive e dança nelas. e um dia você sai com uma sacolinha. tão preciosa, tão maravilhosa, tão significativa. tão sua, que apenas para você ela faz sentido. e desistir significa, também, saber do quê se está desistindo. de tudo? não. na verdade, depende do que você recolheu na sacolinha. é dela que vão sair seus novos sentimentos, suas novas perspectivas, seu novo você."


daqui


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Assim...
tem gente que não consegue reconhecer que a coisa acabou, que não tem mais volta. que não consegue recolher a sua sacolinha e seguir em frente. que não desiste. e isso é triste, sim. mas também é chato para os que já perceberam o fim, e que se esforçam para seguir em frente.
ai entram as assombrações. aquelas aparições do passado. certo, algumas vezes temos 'aparições' de lembranças doces de coisas boas que aconteceram. frequentemente eu lembro de um ex de muito tempo atrás, de como ele era querido. ele é minha 'assombração' particular. o problema é se a pessoa não tem o discernimento de deixar que a memória seja pura e simplesmente isso: uma memória. e faz questão de aparecer, literalmente, na vida do outro.
alguns homens fazem isso por serem cafajestes. outros por simples falta de noção. e alguns porque são completamente malucos.
e eu tenho minha própria assombração. é um privilégio, até. porque depois de 11 meses (sim, faz 11 meses que eu terminei tudo), a pessoa ainda não tem a consciência de que acabou. e ainda acha brechas para aparecer. é impressionante. e assustador, pra falar bem a verdade.
assustador porque o medo que eu sinto da maluquice da pessoa é real, é tangível. é uma coisa meio inexplicável, mas eu sinto, e não consigo controlar.
na sacolinha que restou desse relacionamento, não sobrou muita coisa boa, infelizmente. e isso se deve justamente à maneira como tudo terminou, e a perseguição que se seguiu. (o drama pessoal de que todo mundo já está cansado de ouvir falar)
e por isso, eu sempre tento empurrar essa sacolinha bem lá pro fundo do armário, esquecer que ela existe. porque ela incomoda e dá medo. de vez em quando ela se abre, e eu vejo as coisas que ela traz dentro. tento colocar alguma coisa boa, nem que seja um aprendizado.
porque tudo isso faz parte do que se chama seguir em frente. coisa que eu fiz, coisa que ele não fez.
a grande ironia é que, quem olhar somente pra aparência, diria que ele já deixou a sacolinha pra trás. continua saindo com os amigos, continua com seus hábitos alcoolicos destrutivos, e já faz tempo que tem uma nova namorada, enquanto eu, bem... eu já juntei mais algumas sacolinhas pequenas, enchi uma sacolinha de ilusões e outra da substância que compõe os corações partidos, e continuo na minha rotina de trabalho-amigos-busca de cultura.

e ainda não estou pronta pra abrir uma nova sacola, e deixar alguém colocar itens dentro dela.




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2 comentários:

Nataniel, o Metz disse...

eu os chamo de 'fantasmas do passado'...

Sara disse...

metz, esse é tão chato, mas tão chato, que não é fantasma, não. fantasma até pode ser camarada, né?

esse ai é assombração mesmo!!!!



:(